"São onze horas da noite.
Saio da Aurelia e pego a Roma-Civitavecchia.
Mais quarenta e cinco minutos e, se tudo correr bem, chegamos a Roma. Alice adormeceu contando as estrelas. Agora está sonhando, encolhida no banco, com o rosto voltado para mim. De vez em quando eu tiro a mão do câmbio e acaricio seu rosto. Liguei o rádio para me manter acordado, mas deixo o volume baixo, para não acordá-la. Eu não sei bem o que é a felicidade, mas deve ser algo parecido com isso.
Encontrei um mundo do meu tamanho, sem precisar recorrer a "mágicas" idiotas.
Tiro a mão do câmbio e acaricio o rosto do meu mundo. E depois as dúvidas me perseguem, como sempre. Dentro de poucos meses, já estaremos em caminhos diversos, ela vai estudar Letras, e eu, Medicina.
Ela quer ser escritora, colocar o mundo em um pedaço de papel, preto no branco. Eu não. Não tenho coragem para isso. Não nos veremos mais tods as manhãs, não teremos mais tempo para comprar roupas e sapatos da Cola di Rienzo, nem para ir ao Adriano.
Ela vai conhecer outras pessoas, outros mundos.
Talvez eu também conheça outros mundos. Mas não agora. Agora não consigo nem imaginar.
Quanto tempo será que vamos durar? Um mês? Um ano? A vida toda?
Mas vale a pena. Eu e ela, nem que dure apenas uma hora.
Quanto tempo nós vamos durar? Eu não sei. O mundo é estranho, se amplia, se restringe e depois volta a se ampliar, e nunca conseguimos ter certeza de que ficaremos confortáveis dentro dele.
Mas, quando se consegue estar lá dentro, é preciso capturar toda a vida possível. E reservar um pouquinho dela. Porque talvez, um dia, quando estivermos necessidade de lembranças, aquele punhado de vida vai nos servir, e ficaremos felizes ao encontrar um pouco de areia nos cabelos. Ficaremos ali, afagando o coração e ouvindo o que ele tem para contar."
E é assim que "E as estrelas, quantas são?" termina. Com esse suspiro longo e essa promessa de que vai durar, afinal, a gente sempre soube disso. Nem que seja apenas uma hora.
Elas eram 351 para eles. Acho que se a gente sentasse, contaríamos muitas mais. Ou pararíamos, já que essas coisas não contamos. Existem mais delas no universo do que grãos de areia nesse mundo, lembra? Finge que cada uma delas é um dia nosso juntos. Depois a gente conta os planetas. Depois disso as galáxias. E depois a gente contaria lembranças. Da infância, da adolescência, da gente. Cada uma sendo um dia nosso.
Pode ser?
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