30 de setembro de 2012

Pequeno.

Postado por V, às 23:21
Diga que não sentiu falta das palavras. Sei que ando desleixada com os registros, mas tenho essa mania de não escrever tudo o que é bom. E me deu justamente aquilo que eu já não acreditava mais. Me faz sorrir por lembrar de uma conversa ou duas, me faz querer chorar por pensar em ficar sem, me faz sentir saudade no meio da noite e implorar para que a cama não fique vazia por muito tempo. Sabe que ainda me importa em muito, sabe que eu ainda amo quando dizem que chegou. Sabe que eu me sinto em dívida pela falta de atenção, sabe que sou grata por ser sempre tão calmo.
E olhe que já nem me preocupo tanto com os outros, bem sabe o quanto eu preciso que esteja sempre de acordo. Bem sabe como eu sinto medo de que aquele velho ditado que um dia eu criei volte a ser verdadeiro. Mas percebo que há muito todos o esperam de braços aberto. Esse é o efeito das suas primaveras? Eu nunca parei pra pensar nelas.
Pode ser que um dia eu não faça mais isso desse jeito tão explicito. Sinto falta do papel e da caneta, entende? Sinto falta de sonhar todos os pedidos e acompanhá-los enquanto os nós dos dedos ficam brancos e dormentes. Sinto falta de me deliciar em todos os acordares e adormeceres. Sinto falta de ser tão plenamente completada por esses dias. É que o sol brilhava tão forte que eu esquecia de não me deixar proteger dele, e depois o vento soprou tão frio que eu me esqueci de gritar com ele. Tão controverso e tão certo. Tão sinônimo de mim que nem mesmo percebia.
Me fogem as palavras, afinal, isso não é algo com o qual quero que qualquer pessoa se identifique. É mais intimo, é mais profundo. É meu ritual quando todo final se aproxima. E tenho só 49 minutos para me lembrar do quão intenso e imenso foi. Me fogem as palavras para agradecer ou venerar. Me foge o conforto de saber que logo vai se repetir, pois sei que vai demorar, e que até lá vão existir outras tempestades das quais precisará acalmar.
Sei que estou seca de palavras bonitas esses tempos, ainda mais quando não consigo nem mesmo escrever mais sobre isso. Sei que preciso voltar ao estágio de conseguir me expressar e me expressar bem. Liricamente. Preciso voltar a sentir com mais clareza, preciso voltar a me importar com as chegadas e não com as partidas. Sei que existem milhares de coisas das quais preciso mudar, e sei que fugi completamente do que esperava fazer, não se trata de mim, se trata desse novo fim. Sei que sempre me coloco em foco de qualquer coisa.
Sei que eu deveria ser mais grata, deveria sorrir por não acabar como os outros, não é?
Chegou tão calado e se vai tão tranquilo. Acho que é isso o que eu tanto admiro, essa coisa de calar todos os problemas e acalmar todos os furacões. Coloca a casa em ordem e me deixa todas as instruções de como continuar. Deixa a chave do coração pendurada perto da porta pra eu nunca me esquecer de trancar. Deixa a cama arrumada e o livro marcado bem aonde eu preciso continuar. Esquenta a água e deixa o açúcar na mesa do lado do chá. Deixa o lar com cara de lar e faz com que qualquer pessoa que entre ali nunca mais queira sair.
Pequeno, vou tentar deixar tudo mais arrumado da próxima vez. Assim pode passar mais tranquilo, sem medo, sem dor, sem choro. O calor virá de dentro e fará com que tudo pareça sem graça lá fora. Vou pintar um quadro novo e fazer com que as flores de lá de fora não pareçam tão bonitas como as de dentro. Vou seguir as regras e anotar menos problemas no quadro de avisos.
Volte sempre, te espero aqui. Como nunca vai deixar de ser.

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