11 de novembro de 2012

and she's dying to say: just keep away from all that i am.

Postado por V, às 21:47
se eu pudesse, começaria uma carta. e ela escreveria:
"Não preciso de saudação, pois é uma despedida. É tipo aquele bilhete que os suicidas deixam quando estão encarando a arma, a janela, o veneno, os remédios ou a corda. E hoje quem morre é meu amor. Desculpe ser assim direta, mas acho que já enrolei demais quanto a isso. Acho que todos os dias vejo pontos e motivos que me levam a pensar que ele está morrendo aos poucos, todos os dias. Ele tem uma doença terminal e ela vai fazendo com que ele definhe mais e mais a cada segundo. Eu sei qual é a cura. Eu sei que só precisaria dar um passo à frente, só precisaria dizer duas palavras e me redimir. Só precisaria deixar que as coisas voltassem a ser como eram e ele poderia ser salvo. Mas algumas curas não são de graça. Algumas curas são inúteis. E se você cura uma doença, aparece outra. É assim que vem acontecendo com ele. Curo uma ferida e outra simplesmente aparece. E eu não faço a mínima ideia do porquê isso acontece. Às vezes penso que a culpa é minha, por ficar tão acomodada, mas prefiro pensar que foi só mais um passo errado que eu tomei e que isso tudo é só uma queda da qual eu me recuso a perceber.
Essa carta não é pra ninguém, é pra mim. Acho que eu preciso conversar comigo mesma e ver o quanto eu estou mudando por isso. Ou o quanto estou voltando a ser o que eu era por isso. Às vezes a gente se perde em nós mesmo e fica difícil achar o caminho de volta. Arrisco dizer que esse abismo pelo qual venho caindo, sou eu. Sou vazia, afinal! Nada até hoje me preencheu como eu esperei sempre que acontecesse. Sou vazia, sou oca. Sou uma camada fina de gelo que protege toda uma imensidão de água gelada. É só isso o que eu sou. Dizem que o amor recupera as pessoas. Dizem que ele ajuda a gente a ver melhor a vida e que preenche esse vazio todo. Então quer dizer que isso o que eu achei que fosse amor não era nada? Era só mais um monte de vazio? Era o quê, afinal? Perda de tempo? Perda de espaço? Perda de consciência? O que é tudo isso?
É cada vez mais difícil respirar fundo. É cada vez mais difícil abrir os olhos. É cada vez mais difícil enxergar a luz. Eu não vejo mais nada, eu não sinto mais nada. Fico ouvindo meus pensamento e minhas lembranças. Parece tudo tão distante. Será que eu sonhei tudo isso? Será que esses sonhos ruins se devem ao fato d'eu dizer que sempre preferi pesadelos? Vivo em um pesadelo constante e a culpa é só minha? O que foi que eu fiz que me levou a isso?
Acho que eu nunca me questionei tanto. Sei todas as respostas, sei quem é que está certo. Eu preciso perder esse senso de rebeldia e concordar com o sistema. As coisas não vão passar a ser do meu jeito porque eu simplesmente quero que elas sejam assim. Só queria saber se eu vou continuar assim até eu senti que estou confortável em mudar. Mas, me diz. E se eu nunca me sentir confortável em partir? Vou cortar o que resta das minhas asas e ficar? E se eu quiser gritar? Vou gritar no ouvido de pessoas que cuidaram de mim, ou vou gritar pro mundo finalmente me ouvir?
Estamos doentes. Eu e meu amor. Ele perece, mas eu tenho que continuar de pé. Uma nova doença será a cura para esta? Ele perece, enquanto eu tenho que tatear no escuro por um novo apoio. Ele perece, enquanto eu tenho que achar formas de me explicar. Ele perece, enquanto eu continuo caindo... E caindo... E caindo em mim. E quando eu hei de perecer, ele há de ressurgir. Não podemos viver em conjunto, eu e esse amor. Mas não podemos ambos morrer. Mas não podemos, sozinhos, morrer.
"
se eu pudesse, escreveria essa carta. mas não posso. talvez um dia eu possa.

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