Acordou como em todos os dias em que fazia. Mas sentia vontade de mudar algumas coisas. Não queria simplesmente acordar, arrumar a cama e fazer o que lhe pedissem. Iria pedir para fazerem o que queria, faria o que queria, e talvez assim fosse começar bem aquele novo ano.
Viu-se revirando caixas, físicas e mentais, achando coisas perdidas que jurava que nunca mais iria encontrar, tanto dentro como fora. Sorria com algumas lembranças, com outras bobagens, e sentia-se triste pelas vontades que ainda não sumiram, nem mesmo se realizaram.
Era sempre esse o ritual do seus anos que começavam, via-se abrindo velhas feridas, velhas caixas, velhos livros, e sempre ria revendo tudo. Pergunta-se como poderia ter sido tão boba e inocente por tanto tempo. Por que não tinha percebido todos os sinais quando ainda era cedo, por que não disse sim, e por que não disse não.Mas via-se agradecendo por quase tudo o que aconteceu, e por todas as coisas que aconteciam por consequência disso. Quem sabe se não foram por todas as coisinhas bobinhas que hoje ela percebia que ela se tornara o que era hoje. Mais pé no chão, mais realista, mais na defensiva. Mas nunca deixou de ser a garota sentimental que era desde criança.
Leu as passagens dos diários antigos, das músicas que ouvia e dos livros que leu. E reconheceu completamente em todas as páginas, e sabia de quem tratavam, mesmo que nunca tivesse tido um único nome em todas as páginas, exceto de seus ídolos, aqueles que até hoje ela nunca trocara uma palavra. Mas quem sabe, não é?
Sorriu por ter percebido que já faziam pelo menos quatro anos que guardava todas as duas memórias importantes dentro de míseras caixinhas nas divisórias do guarda roupas. Fora algumas folha que ela jogou fora, agendas com textos, e poemas que costumava escrever quando tinha seus 9 ou 10 anos. Viu que toda a parte sentimental da sua vida cabiam dentro de caderninhos e agendas, que acabavam surradas, semi-esquecidas.
Mas jamais as deixaria. Jamais as esqueceria. Não gostavas, às vezes, de reviver aquelas memórias tão intensas e curtas. Coisas que nem mesmo completaram uma semana em sua mente, mas que agora seriam eternas em suas páginas. As páginas que ela mesma escrevia, esperando que alguém um dia pudesse entendê-las. Se é que alguém iria viver a experiência de conhecê-la tão bem ao ponto de saber o que havia naquelas caixas, e naquelas páginas.
Ainda era dia. Ainda o sol brilhava atravessando sua janela e tocando seu ombro. Parecia dizer-lhe que a vida continua, ainda bem. Você pode recomeçar tudo quando quiser, em qualquer dia. Quando estiver preparada ou desesperada. Ela fechou tudo, guardou nos mesmo lugares. Agora sorria. Lembrou-se de quem era, de quem já foi, de quem queria ser. Começou bem, simplesmente com o frescor de velha memórias pinicando-lhe a mente.
Estava feliz. Afinal, era só o primeiro capítulo de um novo volume.
3 de janeiro de 2012
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