29 de outubro de 2011

Paranoia Bucal: Meus germes, seus germes.

Postado por V, às 20:39


Imagine você: Acordando em pleno sábado, com aquele gosto de "bom dia" na boca, amaldiçoando qualquer coisa que esteja entre você e sua escova de dentes. Entra no banheiro, procura no copinho onde sua querida escova sempre esteve, e se depara com ela fora do lugar.Em cima da pia. Recém usada.
Primeiro você tenta se lembrar "eu estava ou não cansada o suficiente para dormir sem escovar os dentes? Ah sim, estava cansada mais do que o suficiente". Então você se lembra que um mais um são dois, e que alguém andou usando sua escova de dentes, de novo.
Agora você fica na dúvida: Fico com os dentes sujos e a com a boca com aquele gosto horrível, ou arrisco com os germes bucais de outra pessoa entrando em contato com os meus? Eu, boa egoísta, anti-social e prevenida que sou, ao me deparar com essa situação, fiz o que foi mais sensato de uma capricorniana egoísta. Voltei para o meu quarto, abri o meu armário e peguei a escova de dentes reserva que estava lá. Eu sempre tive um senso dedutivo dos bons. Então acredito que quando ignorei o pensamento "sua mãe te comprou duas escovas, o mínimo que você deve fazer é deixar uma no banheiro dela, como um obrigada, quem sabe", era uma micro mini premonição para o nervoso que eu possivelmente passaria naquele dia.
Depois de todo o drama de escovar os dentes, eu comecei a pensar em quem poderia ter feito tal atrocidade de usar minha escova de dentes com menos de duas semanas de uso. Não que eu seja tão noiada assim com as minhas coisas, eu sou... um pouco, sabe. Tá, talvez eu seja mais do que noiada com as minhas coisas, acho que é meu defeito mortal isso, mas não acredito que venha ao caso.
É que recentemente já haviam usado minha antiga escova de dentes, me obrigando a comprar outra. Agora tá, por que eu faço tanto circo por uma simples escova de dentes que custa, sei lá, três reais? Por que ela é minha. E tudo o que eu posso dizer ser meu, é meu. Não divido, entende? Mesma coisa com meus amigos, amores, namorados, canetas, livros, roupas, sapatos, cachorros etc etc. Eu fico depois imaginando se alguém usasse algum namorado meu ( se algo louco disso existisse pra mim, né, enfim ) e depois colocasse em cima da cama, com vestígios frescos de que ele fora usado sem a minha permissão com o intuito de ser usado novamente como se isso fosse totalmente comum, achando que eu nem fosse perceber e usá-lo normalmente, sem nenhum tipo de nojo. Ou quando a minha irmã pega minhas calças, e eu só percebo quando vou usá-las e não estão nas minhas gavetas e nem na cadeira. Ou quando estou na sala de aula, procuro uma caneta e vejo que está com o ser humano sentado na minha frente que a pegou sem a minha permissão. Tudo bem que uma calça e uma caneta podem ser devolvidas. A escova e o namorado não. E às vezes eu sinto uma vontade incontrolável de cutucar uma pessoa e dizer "Você me deve R$ 24,50 pelo meu livro que você amassou a capa e as páginas". Mas eu não sou tão má assim. Se não ficar encarando, nem dá pra perceber os amassos no livros. Só para constar, eu não sou lá tão egoísta assim.
O incidente da escova foi há alguns dias, mas só agora eu percebi quem foi que usou ela. No dia já tinham saído 3 pessoas da casa, que ironicamente usam o banheiro ao lado do meu quarto. E quando eu interroguei a mais suspeita, a pessoa disse "Nem em casa eu dormi". E a escova não estava na pia quando eu fui tomar banho, que foi quando o ser já havia "dado a fuga". Então, com minha pequena massa cinzenta meio adormecida ainda, eliminei o suspeito.. Estaca zero com a investigação escova.
No dia seguinte o suspeito número 2 estava escovando os dentes, normalmente. Eu não estava vendo, mas ouvia. Minha melhor espiã foi verificar e... Não era ele quem estava usando a escova. Menos um na investigação.
Decidi deixar pra lá. Afinal, é só uma escova. E se eu fosse ficar totalmente descontrolada procurando quem foi que a usou, eu acho que não iria dormir à noite. Mas deixei ela no copinho, como se eu nada soubesse do caso.
Agora eu penso, se eu não sou capaz nem mesmo de impedir alguém de usurpar a minha escova de dentes roxa, nem mesmo a laranja, o que eu vou conseguir manter intactamente meu na vida? Eu já perdi tanta coisa, dinheiro, canetas, borrachas, controles remotos, ursos de pelúcia, camisetas, acessórios, amores, amigos, parentes, pessoas importantes... O que seria mais uma escova usada por uma entidade que parecia nem mesmo pertencer a essa casa? Enfim, segui minha vida normal com a minha nova - e nem tão especial - escova cor-de-rosa.
Foi quando ontem, antes de entrar no meu banho pré-cama, lá estava minha velha amiga roxa, sobre o tubo seco de pasta dentária no peitoril da janela do banheiro. E só tem uma pessoa que escova os dentes enquanto toma banho em toda a casa. Agora sim eu entendo por que deixei para usar a escova rosa por último. Não vai ser nenhum dos meus irmãos que vai roubá-la. Afinal, acho que ninguém é bêbado o suficiente para escovar os dentes com uma escova cor-de-rosa sendo um homem, não é?
Uma boa estratégia, que se eu dobrá-la, posso proteger muitas das minhas coisas ainda. E ainda me deu uma certeza que sempre é o primeiro suspeito a ser culpado, e que nem todos dizem a verdade, mesmo quando é uma pergunta retórica e totalmente banal como a do tipo "você usou a minha escova de dentes?".

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